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08/03/2017ㅤ Publicado às 07:28

Por: Ana Maria de Souza Martins Farias* 

O dia Internacional da MULHER é comemorado no dia 08 de março. Essa comemoração é o resultado de reivindicações de mulheres nos Estados Unidos e na Europa que se reuniam em organizações femininas para protestar contra as jornadas de trabalho extenuante e dos baixos salários que recebiam, no trabalho fabril a partir da Revolução Industrial.

Essas organizações femininas evoluíram até que no ano de 1908, cerca de 1500 mulheres se reuniram e celebraram pela primeira vez o Dia da Mulher, pois buscavam igualdade política, uma vez que na maior parte do mundo as mulheres não tinham direito ao voto e procuravam também igualdade econômica, somente mais tarde em 1910 quando foi realizada a II Conferência de Mulheres Socialistas na Dinamarca foi criada uma data anual para se celebrar o dia da Mulher, como forma de valorizar as lutas femininas. Mas o dia para Internacional da Mulher só foi oficializado em 1921.

Apesar da declaração e da criação de um dia Internacional para as mulheres as questões de gênero diferenciando os talentos e aptidões entre mulheres e homens continuaram praticamente imutáveis. As mulheres já frequentavam escolas superiores, mas em número bastante reduzido. Pode-se citar que a primeira mulher a se graduar em Arquitetura foi a americana Marion Mahony Griffin, em 1894, no Massachussets Institute of Technology.

Marion foi bastante discriminada no mercado de profissional de Arquitetura e trabalhou durante muito tempo com Frank Lloyd Wrigth, deixando sua marca com seus desenhos aquarelados e em seus projetos de paisagismo, mas mesmo assim Wrigth nunca deu a ela os créditos de suas obras. Ainda considerando as questões de gênero na profissão é importante citar como as mulheres eram tratadas na Escola Bauhaus.

A Escola Bauhaus  criada em 1919, em Dessau, na Alemanha teve como primeiro diretor o arquiteto Walter Gropius, que no manifesto da criação de escola colocou: serão aceitas na Bauhaus todas as pessoas idôneas, independente de idade ou sexo. Este era o discurso de um homem progressista. Porém na perspectiva da diferença de gênero as coisas não funcionavam assim.

Quando a escola foi aberta, como uma escola de Arquitetura, Design e Artes em uma ótica de vanguarda, com o espírito democrático e libertário, muitas mulheres interessadas em artes ingressaram na escola, e na grande maioria mulheres talentosas a exemplo de Gunta Stölzl, Benita Otte, Margarete Willers, que foram conduzidas para a oficina de tecelagem. Essa oficina surgiu dentro do Departamento Feminino, devido ao grande número de mulheres que estavam ingressando na escola. Além da criação do Departamento Feminino foi estabelecido pelo Conselho dos Mestres que as mulheres só poderiam ocupar 1\3 das vagas.

Presidente do CAU/SE, Ana Maria Farias. Foto: Tíffany Tavares

Observando a atuação da mulher no mercado profissional da Arquitetura, não é difícil perceber que nos primeiros anos do século XX não existia muito espaço para o público feminino e essa constatação não é verdadeira apenas na Arquitetura e sim nas outras profissões também.

As dificuldades para as mulheres em todos os setores de vida se perpetuaram, e em um contexto de lutas a Organização das Nações Unidas (ONU) em 1945 assinou o primeiro acordo internacional que estabelecia o princípio de igualdade de gênero. Em 1960 graças ao movimento feminista foi comemorado oficialmente o Ano Internacional da Mulher e em 1977 foi estabelecido que o dia passaria a ser comemorado todo dia 8 de março.

Dos primeiros anos do século XX para hoje no setor da profissão de Arquitetura e Urbanismo muitas coisas se transformaram. Hoje somos maioria, no Brasil segundo o censo de Arquitetura do CAU\BR em 2012, dos 128 mil profissionais ativos, 61% são mulheres uma tendência que vem aumentando ano a ano. Contudo também se observa que apesar do grande contingente de mulheres na profissão poucas são as mulheres que alcançam destaque em comparação aos homens.

Não se pode deixar de citar nomes de mulheres importantes  na Arquitetura e Urbanismo e no Design, a exemplo da arquiteta pernambucana Janete Costa, a arquiteta italiana Lina Bo Bardi que veio para o Brasil na década de 1940, de Zaha Hadid a primeira mulher a ganhar o Prêmio Pritzker de Arquitetura, Denise Scott Brown arquiteta e urbanista americana, sócia da empresa Venturi, Scott Brown Associates, mas é importante ressaltar que é um número muito pequeno de mulheres com grande destaque na profissão.

Nós mulheres na Arquitetura e Urbanismo temos ainda que ocupar mais espaços de representação e lutar por igualdade salarial, que é uma luta mundial.

Pensando na mulher na Arquitetura e Urbanismo e ampliando as reflexões para o dia Internacional da mulher é necessário que se veja esse dia como um dia de reinvindicações e lutas para conquistar mais direitos e erradicar da sociedade a discriminação, a violência física, moral e sexual contra as mulheres como uma forma de garantia de direitos ao trabalho feminino e respeito ao gênero.

*Presidente do CAU/SE, arquiteta e urbanista, professora doutora da Universiade Federal de Sergipe (UFS).

 

 

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