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17/08/2021ㅤ Publicado às 09:25

O anúncio da possível venda do Palácio Gustavo Capanema no Rio de Janeiro provocou susto não apenas no Brasil. O palácio é um marco da arquitetura modernista, tombado pelo patrimônio histórico e artístico nacional e seu projeto tem assinatura dos mais importantes arquitetos brasileiros de todos os tempos, Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, entre outros, além da consultoria do mestre francês Le Corbusier.

Exatamente no dia 17/08, Dia Nacional do Patrimônio Histórico, o CAU/SE, além de tantas entidades em defesa do patrimônio brasileiro, se manifesta contrário a ameaça de venda Palácio Capanema e emite artigo assinado pelo conselheiro federal pelo conselho sergipano, Ricardo Mascarello. Segue abaixo:

 

Pela preservação do Palácio Capanema como bem público e monumento ícone da arquitetura modernista brasileira

Por Ricardo Mascarello*

É com imenso propósito e visível preocupação, que o CAU/SE manifesta o seu apoio para que o Palácio Capanema não seja leiloado e vendido para uma iniciativa privada qualquer. Sua permanência de caráter público para a sociedade brasileira e como monumento ícone da arquitetura modernista internacional é uma representação material e vital para a humanidade. Isso nos remete tanto para um contexto histórico brasileiro da primeira fase da Era Vargas frente às políticas de educação e saúde, quanto para as especificidades da estética modernista que avançou neste período com mudanças significativas. Segundo o arquiteto e urbanista Lúcio Costa: “Em 1938, com o prédio do Ministério já em construção, ainda não havia em Nova York nenhum arranha-céu com fachada envidraçada”.

Projetado em 1936 e construído entre os anos de 1937 a 1943, se consagrou como uma arquitetura de ordem mundial, devido a seus atributos contemporâneos e vanguardistas da estética modernista, representativa para o Brasil e para o mundo. O projeto foi concebido a várias mãos pelos arquitetos Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Afonso Reidy, Jorge Moreira, Carlos Leão e Ernani Vasconcelos.

As passagens de Le Corbusier (arquiteto suíço e naturalizado francês) pelo Brasil em 1929 e em 1936 deixaram fortes marcas na futura construção de uma arquitetura modernista brasileira. Nos referimos a isto devido a Le Corbusier ter concebido vários rabiscos da cidade do Rio de Janeiro e entre eles um para o próprio edifício do Ministério em outro sitio urbano. Lúcio Costa e seus colegas tiveram a maestria de alavancar uma genuína arquitetura moderna brasileira relacionando os preceitos modernistas da época (Carta de Atenas e os “cinco pontos da arquitetura moderna” de Le Corbusier), referenciados na implantação do edifício solto no terreno e a presença de pilotis, estrutura independente e o brise-soleil para proteção da fachada de vidro com incidência solar. Há destaque também para os painéis de azulejo de Cândido Portinari que revestem as fachadas dos pilotis e os jardins de Burle Marx. Segundo Lúcio Costa: “Não apenas marco de uma época, mas de um excepcional monumento de idealismo e de lucidez, no confuso quadro dessa época”.

A materialização expressa pelo Palácio Capanema desencadeou a configuração futura de uma arquitetura moderna genuinamente brasileira decorrente de seus princípios vanguardistas internacionais aliados a arquitetura colonial brasileira. Uma fusão de preceitos e tradição que consolidou um pensamento de caráter e buscou almejar e satisfazer uma arquitetura para o Brasil.

Uma obra com esta envergadura internacional precisa passar por uma intervenção de restauro e se consagrar como um organismo vivo, vital e de caráter público. O mundo pode se alternar, cambiar e se nutrir com novos tempos e tecnologias, mas a história é uma só. O apelo à manutenção do Palácio Capanema como edifício público genuinamente restaurado não se restringe apenas em si próprio. Ele converge para um extenso debruçar na importância da preservação e conservação dos edifícios e monumentos de valor histórico, artístico e cultural em todo o território nacional. Este ensejo também nos remete para um olhar no Estado de Sergipe frente aos seus bens patrimoniais. Nos referimos aqui aos edifícios e monumentos sergipanos que representam um determinado momento histórico e necessitam de algum tipo de intervenção para sua manutenção no tempo.

Nós, do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Sergipe temos o dever e a obrigação ética de compartilhar a necessária indignação de afronto visível ao patrimônio nacional e seguiremos numa luta constante para assegurar a integridade de nossos bens constituídos pela história da arquitetura brasileira. 

Ricardo Mascarello é arquiteto urbanista e conselheiro federal do CAU Brasil, pelo CAU/SE.

 

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