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05/03/2024ㅤ Publicado às 12:19

O PEDESTRE COMO ELEMENTO PRIMORDIAL PARA A MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL

*Por Shirley Barbosa, conselheira do CAU/SE

Com a ascensão da era espacial a finitude da capacidade biológica básica do planeta foi compreendida. Estudos comprovam que seu limite já foi ultrapassado. Já conseguimos perceber que somos os principais elementos de mudança. Não somos mais tão inocentes assim.

Portanto, não se trata mais de falar em crescimento sustentável e sim em retirada sustentável para que consigamos reduzir drasticamente os impactos negativos do transporte sobre o meio ambiente, sem que haja prejuízo na mobilidade de pessoas e coisas.

Trechos curtos ou longos percorridos a pé para destinos diários contam, certamente, para uma melhor condição do ar que respiramos. Se imaginarmos que boa parte dos trajetos que realizamos com frequência poderiam ser observados como uma possível contribuição para o meio ambiente, muita coisa mudaria.

Além disso, a troca de sensações, a descoberta do novo, a troca de ideias, a ocupação, a apropriação ativa dos espaços públicos e a produção de espaços mais seguros, são possíveis pelo simples fato de andar pela cidade.

Essa apropriação é tão importante para a percepção da aplicação das políticas urbanas, quanto para a produção de indivíduos cidadãos e defensores do espaço público.

Se deslocar sem previsão de tráfego, contemplar o outro, fazer parte da cidade são importantes hábitos para mudar uma cultura automobilística em cultura de liberdade.

O deslocamento pedonal é o modelo mais natural, saudável e sustentável de mobilidade. Porém, necessita de infraestrutura apropriada para acontecer efetivamente. É necessário mais do que simples calçadas. Há de se pensar em uma mínima infraestrutura. Arborização, mobiliário urbano, iluminação, inclusão de sinalização visual e sonora para pessoas portadoras de deficiência, são algumas delas. Isso não é impossível.

O processo de transformação do modelo pedonal existente poderá ser lento, mas será efetivo se políticas públicas, somadas a iniciativa privada e demais atores da sociedade, passarem a valorizar o caminhar.

Mais recentemente, a Lei 13.146/2015, conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência reformula os conceitos de acessibilidade, já estabelecidos na lei 10.098/2000, vem ampliar a visão do direito a cidade, dando ao desenho universal uma conotação mais abrangente, dentro do conceito de produção de espaço urbano. Isso nos faz pensar, em como romper as barreiras que nos separam de uma produção de cidade sustentável e acessível a todos.

Em entrevista concedida a revista eletrônica WRI BRASIL, 2012, Jan Gehl um dos maiores responsáveis por mudar a cara da cidade Copenhague, nos anos 1960, e torná-la referência de planejamento urbano voltados para as pessoas, disse ao ser questionado sobre a realidade de cidades para as pessoas, disse que essa transformação, mesmo parecendo distante de nossa realidade, faz parte de um processo e que Copenhague começou sua transformação há 50 anos.

Ele ainda nos ensina que a chave foi dar um passo de cada vez, que não dá para proibir os carros de estacionarem nas ruas, mas que podemos começar proibir em um bairro ou em apenas uma avenida. E assim, no lugar onde os carros estacionariam podemos implantar uma ciclovia. Ou seja, criamos ai um projeto-piloto, dando tempo para as pessoas vivenciarem a experiência. E, quando começar a dar certo, fazemos isso em outro ponto. Assim, pouco a pouco a população vai entendendo como a cidade pode melhorar.

Por fim, mas não menos importante é pensarmos ou repensarmos a relação de responsabilidade das pessoas com suas calçadas e com o espaço público. Assim como, a intervenção do poder público na fiscalização do uso e ocupação do solo urbano, a aplicabilidade das políticas públicas de mobilidade na requalificação do espaço urbano, devem ser vistos e avaliados, para que haja espaço para construção de uma cultura urbana mais inclusiva e sustentável.

A mudança é necessária, vital e urgente. Vamos fazer a diferença?

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