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06/11/2012ㅤ Publicado às 13:34

Sydnei Menezes

A exuberância da natureza é o mais eloquente signo da vocação da cidade do Rio de Janeiro para a beleza, mas ao mesmo tempo sempre representou um desafio: fazer a arquitetura estar em comunhão com a paisagem e impedir que o crescimento urbano seja feito de forma desordenada e com elevado custo socioambiental. Neste contexto, o prêmio recém-conferido pela Unesco — de Patrimônio Mundial como Paisagem Cultural da Humanidade — é uma oportunidade histórica que o Rio precisa aproveitar, seja para corrigir desvios e erros do passado, seja para ampliar o seu potencial paisagístico.

O título dado à cidade reconhece não só a beleza natural, sob o ponto de vista urbanístico, ou seja, a inserção do ambiente construído no ambiente natural, mas também a valorização paisagística, de suas áreas verdes e também históricas.

O resultado do trabalho desenvolvido pelo grupo de técnicos que se dedicou à tarefa de preparar a candidatura do Rio foi extraordinário, pois estabeleceu uma parceria afinada entre as diferentes esferas de governo. O esforço conjunto, que começou em 2009, possibilitou e garantiu um reconhecimento fantástico para a cidade. Porém, é preciso haver continuidade com efetivas ações do poder público. Uma nova equação, de maneira diferenciada, precisará prevalecer, já que alguns dos locais ‘reconhecidos’ pertencem à União, ao Estado e ao Município.

A criação de um novo modelo de manutenção especial e diferenciado, com autonomia e gestão própria — com a responsabilidade e tutela dessas áreas garantindo um alinhamento das três esferas de poder —, possibilitará o surgimento das condições adequadas e necessárias à conservação e manutenção paisagística, sendo portanto responsabilidade de todos.

Nossa sugestão é de que seja montada uma estrutura de trabalho para supervalorizar estes locais da cidade, que deverão estar devidamente preparados para os cidadãos do mundo poderem usufruí-los da melhor forma. Essas áreas requerem um somatório de responsabilidades de gestão pública diferenciada, cuja tutela deve estar a cargo de órgãos alinhados às atuais demandas por crescimento sustentável — pois se trata de parques urbanos e naturais, unidades de conservação ambiental, proteção do patrimônio histórico e arquitetônico e, por fim, quaisquer áreas de especial interesse urbanístico.

Estamos falando do reconhecimento internacional da paisagem carioca sob o ponto de vista estético e, também, de sua funcionalidade — constituída a partir da relação cultural entre a paisagem e a população. Como se vê, estão criadas as condições para utilizar a recém-premiada Paisagem Cultural da Humanidade como instrumento de sustentabilidade urbana e socioambiental. O direito à qualidade de vida urbana, paisagística e ambiental passa a ser um dever governamental de todas as esferas, sendo na prática uma ação de política pública destinada a cuidar, revitalizar e potencializar seu uso pela população carioca, fluminense, brasileira e estrangeira. Esta é uma oportunidade para ousar e abusar do cenário, genuinamente carioca. Um diferencial do Rio de Janeiro.

Os desafios que se apresentam a partir de agora são: para o poder público, investir na melhoria dessas áreas, através da implantação e/ou recuperação plena dos projetos paisagísticos, dentro da escala de uma nova urbanidade; para os arquitetos urbanistas, aprimorar suas ações projetuais incorporando os novos projetos, de forma sustentável, ao ambiente natural da Cidade.

O título já nos era devido, só não era reconhecido oficialmente. Agora, foi outorgado por direito. A cidade do Rio de Janeiro merece!

* Sydnei Menezes é presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro – CAU/RJ

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