Artigo: Arquitetura qualificada traduz sociedade esclarecida

*Cristiano Pacheco

A Arquitetura, enquanto arte e técnica, é relevante quando começa a dizer algo sobre o mundo, quando provoca reações de cunho emocional e nos faz sentir e pensar.  Para tanto, compreende-se que uma boa arquitetura se faz quando a arte e a técnica estão presentes de forma harmoniosa, sem que uma diminua a outra. O uso dos materiais de que dispomos hoje em dia, deve ser mais explorado para que seja possível expressar em três dimensões aquela arte que se encontra desenhada no papel, onde, concomitantemente busca-se a organização do espaço construído e de seus elementos.

O mercado de trabalho desvirtuou os principais fundamentos da atividade de Arquitetura e Urbanismo.  Em algumas situações as atribuições do profissional são confundidas.  A abrangência da categoria profissional, do Arquiteto e Urbanista, ainda é desconhecida pela sociedade e isso precisa ser esclarecido. O Arquiteto está diretamente ligado ao ordenamento das cidades e tem a capacitação de ofertar cidades mais qualificadas e inclusivas e isso vai além de uma arquitetura simplificada.  Os instrumentos que ordenam as cidades, como o Plano Diretor e seus códigos, o Estatuto da Cidade, o Plano de Mobilidade Urbana, dentre outros, possuem a contribuição direta do Arquiteto e é isso que vai determinar as cidades que a sociedade quer, necessita e precisa.  É isso que vai direcionar as dinâmicas sociais e culturais e consequentemente uma cidade mais democrática e diversificada, com uma arquitetura aprimoradamente qualificada.  São trabalhos de várias escalas e vários setores, e isso tem que estar claro para a sociedade.

O CAU/SE – Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Sergipe, é a chave da mudança educativa e do aperfeiçoamento profissional. O Conselho pretende retomar a reflexão sobre a cor-responsabilização dos profissionais de arquitetura e urbanismo para que, assim, assumam de vez uma atitude de mudança que pressupõe uma quebra de culturas destorcidas pelo mercado de trabalho atual e dessa forma proteger a sociedade de uma má arquitetura.

Apesar do equívoco instalado, visualizo uma progressão da profissão no mercado de trabalho Sergipano.  Hoje, os conhecimentos dos profissionais de Arquitetura são procurados por uma significante parcela da sociedade, situação que acontecia em menor quantidade em tempos atrás, talvez pelo sombreamento de atribuições de atividades que ocorre com outras categorias profissionais, como também pela inexistência do curso de Arquitetura e Urbanismo no nosso estado em anos passados.  Nos dias atuais percebemos uma arquitetura diferenciada, preocupada com a estética e com o ordenamento espacial em seu entorno, expressando a ideia de comunidade, comprovando assim a preocupação com o aprimoramento de nossa arquitetura como também com a qualificação de nossa cidade.

O CAU/SE fará de tudo para colaborar com o intento de não existir nenhuma nostalgia pelo retorno à era do adormecimento profissional descomprometido com a estabilidade social.  Pretende-se retomar a reflexão sobre a cor-responsabilização das comunidades, dos profissionais de Arquitetura e Urbanismo, dos políticos, enfim, da sociedade em geral, na construção de uma cidade mais diversificada, mais desejada, mais prática, menos burocrática e mais autônoma para ser mais democrática. Não podemos ver o futuro, mas podemos planejá-lo. Em suma, pode-se crer numa esfera comum entre os homens quando a arquitetura expressa a ideia de comunidade.

*É Arquiteto e Urbanista, Diretor Geral e Coordenador da Comissão de Ética e Disciplina do CAU/SE. Sócio-Gerente da Digitalize Arquitetura e Construção, empresa atuante há 15 anos no mercado, sobretudo com projetos de cunho social.