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19/04/2024ㅤ Publicado às 07:00

 

O dia 19 de abril celebra o “Dia dos Povos Indígenas sendo uma data comemorativa para celebrar a diversidade cultural do Brasil e de seus povos originários. 

O CAU Sergipe não poderia deixar de exaltar os povos originários do nosso país e de destacar que, além de ser fundamental o cuidado e atenção para esta cultura, trazermos a pauta da arquitetura e do urbanismo dentro deste universo é uma expressiva contribuição para a sociedade contemporânea.

Espalhados por todo o território nacional, aspopulações indígenas carregam uma diversidade cultural de costumes, crenças e tradições peculiares a cada região brasileira. Estes deslocamentos regionais perpassam por distintos domínios paisagísticos e morfoclimáticos, onde os biomas e ecossistemas são parte integrante e inter-atuantes. Nestes aspectos também é importante destacar as paisagens culturais brasileiras que são constituídas pela relação da “paisagem e a população o reconhecimento e o respeito aos seus valores éticos, estéticos, ambientais, ecológicos, econômicos e culturais devem ser assegurados” (Carta ABAP).

Na pauta da arquitetura e do urbanismo podemos relatar brevemente a diversidade de características dos povos indígenas que estão desde a região serrana do sul do Brasil até chegarmos em nossa majestosa Floresta Amazônica.

Segundo o professor Günter Weimer, temos um processo de adaptação das multimilenares soluções construtivas empregadas pelas populações nativas. Ocorre uma controvérsia entre alguns pesquisadoresda chegada do homem ao continente americano onde os mais conservadores apontam para 17mil anos antes do presente, ainda que há evidências que a 30mil anos todo o continente estava habitado pelo homem.

A extensão territorial do Brasil implica na necessidade de soluções arquitetônicas diversificadas, ainda que em sua maioria a existência de soluções construtivas são muito próximas Em um breve exemplo das arquiteturas dos povos indígenas pesquisadas por arqueólogos podemos destacar as casas subterrâneasdenominadas de “Buraco de Bugre” feitas com buracos no solo e cobertas com palha na região daSerra no Rio Grande do Sul, a Casa Gauto com cobertura de palha, no Mato Grosso, Casa Calapalono Parque Nacional do Xingu, no Mato Grosso, a Casa Carajá, no Tocantins e a Casa Aldeia Tucano, no Amazonas (Günter Weimer, 2014). Estes são alguns exemplos da diversidade arquitetônica desenvolvida pelos povos indígenas e por suas tradições milenares adaptadas ao clima nasdiferente regiões. Trata-se de um valor imensurável da relação de disponibilidade de materiais na natureza e da adaptação climática para proteção e abrigo. Nestas arquiteturas e nas organizações das aldeias temos um legado e a existência deconhecimentos orgânicos e adaptáveis as distintas regiões do Brasil.

Além de exaltarmos a preservação e manutenção das tipologias arquitetônicas indígenas, elas nos deixam sensíveis ensinamentos para a arquitetura contemporânea a exemplo de algumas obras que estão sendo desenvolvidas pelo arquiteto Porto Carrero, em Cuiabá/MT. Porto Carrero possui dois projetos recentes baseados na arquitetura indígena do Mato Grosso que ressaltam a morfologia estrutural da Casa Calapalo e sua eficiência energética. Nestes dois exemplos o arquiteto tanto se utiliza do concreto armado, quanto do aço para constituir a estrutura referenciada na arquitetura indígena do Mato Grosso e configura uma obra charmosa e de grande eficiência energética e estrutural. É a sabedoria dos povos ancestrais e tradicionais do Brasil exercendo um significado fundamental para arquitetura dos dias atuais.

Nesta reflexão é significativo destacarmos o universo de arquitetos indígenas que estudaram nas escolas de arquitetura do Brasil. No censo elaborado pelo CAU/BR em um universo de 41.897 entrevistados, 100 deles se declararam indígenas o que representaria em um universo de 214.760 arquitetos um número aproximado de 552 arquitetos indígenas. Um número bastante pequeno, mas que representa o acesso dos indígenas às universidades brasileiras.

Neste Dia dos Povos Indígenas queremos realçar a magnitude de nossos povos originários e acima de tudo, o respeito que precisamos ter com esta ancestralidade brasileira. É fundamental destacar que em 1973 foi criado o Estatuto do Índio, lei federal nº 6.001 com o propósito de preservar a sua cultura e integrá-los, progressiva e harmoniosamente, à comunhão nacional. Nosso principal anseio é o respeito absoluto por estas culturas milenares e a sua premissa de consistência própria. O significado que só mesmo os indígenas detém e sabem argumentar. Nossa análise aqui não pretende designar uma opinião fechada, até porque as opiniões fundamentais só podem partir da própria população indígena. Pretendemos apenas realçar os seus significados e frisar que na área da arquitetura e do urbanismo nos resta perpetuar as culturas tradicionais brasileiras e suas consequentespaisagens culturais. Vale lembrar que as paisagens culturais são constituídas pela relação da população com as paisagens e segundo a Carta da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas:

“Nas relações entre a paisagem e a população o reconhecimento e o respeito aos seus valores éticos, estéticos, ambientais, ecológicos, econômicos e culturais devem ser assegurados. O governo brasileiro, através do IPHAN/ MinC – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/ Ministério da Cultura, já instituiu a chancela da Paisagem Cultural Brasileira “a toda porção peculiar do território nacional representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores.”

Ficamos felizes e atentos que o atual IPHAN vem exaltando uma atenção especial aos povos originários brasileiros.

Destacamos também a nossa passagem pelo Congresso da União Internacional de Arquitetos ocorrido em junho de 2023 em Copenhague quando tivemos a oportunidade de vivenciar as preocupações mundiais com a sustentabilidade do planeta e os ensinamentos das comunidades tradicionais enfatizado em sua temáticas: futuro sustentável – não deixe ninguém para trás.

Este 19 de abril de 2024 não é oportuno comemorações e sim uma profunda reflexão sobre as nossas origens tradicionais e a luta pelademarcação de terras indígenas e do respeito a seu habitat! Estamos assistindo a várias atrocidades a exemplo do Povo Yanomami, em Roraima. Exaltamos que com a perspectiva futura da constituição do Ministério dos Povos Indígenas em 2023 e com o respeito a demarcação efetiva das Terras Indígenas que hoje chegam a 13,8% do território nacional possamos venerar, cultuar e exaltar os nossos povos originários. Salve o respeito aos Povos Indígenas de nosso Brasil!

Ricardo Mascarello

Conselheiro Federal CAU/BR – Sergipe

Coordenador Adjunto da Comissão de Políticas Afirmativas do CAU/BR

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