Artigo da presidente: “A Mulher na Arquitetura e Urbanismo – Dia Internacional da Mulher”
08/03/2019 |
Em celebração ao Dia Internacional da Mulher – 08 de Março, publicamos artigo na íntegra da presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Sergipe (CAU/SE), Ana Maria de Souza Martins Farias*.
Estamos no século XXI e vemos que é necessário renovarmos nossas intenções solidárias para reafirmarmos as conquistas alcançadas, ao longo da história e retomar o marco do feminismo moderno da década de sessenta, a exemplo do liderado por Betty Friedan em suas reflexões, nos Estados Unidos.
Betty Friedan pregava que a mulher precisava construir sua identidade individual, pois o fato de seguir os preceitos da sociedade patriarcal não era o suficiente para garantir a realização da mulher, enquanto ser humano.
Contudo, hoje ainda vivenciamos situações, que é evidente que o sistema patriarcal sobreviveu, pois existe ainda na sociedade as mesmas bases de considerar a superioridade e a relação de subordinação das mulheres em relação a figura masculina, o que reflete em desigualdade, mesmo que de forma menos evidente, mas que continua presente no meio familiar, social e profissional.
No aspecto profissional, segundo dados do IBGE de 2016 as mulheres recebiam cerca de 76,5% do valor dos salários masculinos, mesmo em casos em que haviam estudado mais, e em alguns casos, também trabalhavam mais.
Considerando a profissão de arquitetura e urbanismo, atualmente, segundo dados do CAU/BR existem um total de 167.060 profissionais registrados e 63,10% são mulheres (105.420) em atividade profissional no país, e esta realidade ocorre também em outros estados e em Sergipe não é diferente.
Mesmo em maioria, as arquitetas urbanistas recebem remuneração menor que os homens e ainda mais grave é a falta de reconhecimento e renome, pois a maioria das obras citadas, nos meios, acadêmico e no mercado, são de arquitetos e não de arquitetas. O que nos leva a refletir que essa desigualdade de reconhecimento está diretamente ligada a estrutura da sociedade patriarcal, que tende na sociedade contemporânea, a ser modificada diante das grandes transformações sociais, que retiram a legitimidade deste comportamento, mas ainda permanece.
Desta forma, para reforçarmos existência de grandes arquitetas urbanistas no cenário da profissão, sempre é importante citar nomes como o da arquiteta italiana radicada no Brasil Lina Bo Bardi, com a singularidade de suas obras.
Outra arquiteta a ser citada Lilly Reich, designer modernista alemã que foi co-autora da cadeira Barcelona de Mies van der Rohe, de muitos outros objetos apresentados em exposições internacionais e muitas pessoas nem sabem de sua existência. Pode-se citar também, a arquiteta americana negra Allison Willians com suas obras, a exemplo do Centro August Wilson para Cultura Afro- Americana em Pittsburg.
Para reforçar esta realidade da invisibilidade das mulheres na arquitetura e urbanismo, em entrevista no The New York Times, em 2016, um pouco antes de morrer, a arquiteta Zaha Hadid revelou que necessitava reafirmar que era uma arquiteta, enfrentando batalhas diárias em seu meio de trabalho.
É importante considerarmos que para chegarmos a este dia, o dia internacional da mulher, foi necessário percorrer um longo caminho de lutas na busca de espaço e reconhecimento, mas sabemos que este modelo patriarcal ainda perdura, mesmo que de forma dissimulada, mas que somente com a solidariedade – entre nós mulheres – e presença de leis iremos manter nossas conquistas, que sabemos ser resultado de lutas, que fazem valores considerados universais e eternos perderem a legitimidade.
Enfim, podemos perceber a constante reafirmação da presença feminina na história de nosso país, o que favorece não só a condição de ser mulher, de ser profissional em qualquer área, mas reafirmar a condição humana, dentro das diversas contradições, que colaboram na construção de conquistas, que nos torna sujeito de nossas lutas em prol dos ideais de igualdade em todos os aspectos da vida.
*Ana Maria de Souza Martins Farias é arquiteta e urbanista, professora doutora da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Sergipe (CAU/SE).