Roda de Conversa: Arquitetas incentivam mulheres para o mercado de trabalho
22/03/2019 |
Na sexta-feira, 15, mulheres arquitetas e urbanistas, acadêmicos da área, professoras, conselheiras e conselheiros, vice-presidente e presidente estiveram reunidos para conversar sobre o tema “Mulheres na Arquitetura” em uma rica roda de conversa, em celebração ao Dia Internacional da Mulher no Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Sergipe (CAU/SE).
A psicóloga Susana Andery abriu o ciclo de palestras com o tema “A condição feminina no mundo do trabalho contemporâneo” e explicou que o mercado é um campo de luta da mulher por igualdade em relação aos homens. “Infelizmente a genuína igualdade entre gêneros ainda está longe de acontecer na nossa sociedade iminentemente patriarcal. Ações urgentes precisam ser tomadas, a exemplo de um plano de carreira idêntico para homens e mulheres, sem distinção”, argumentou.
Com o tema “Mulheres na Arquitetura”, a segunda palestra foi ministrada pela presidente do CAU/SE, Ana Maria Farias, que fez um breve apanhado histórico sobre a luta feminina, as diferenças entre homens e mulheres e a questão estrutural da sociedade patriarcal.
“A mulher como o centro do matriarcado é substituída pela cultura do papel masculino que estabelece as relações de poder. É importante perceber a mulher como sujeito de nossa história em prol de ideias de igualdade em todos os aspectos de vida. É isso que precisamos discutir para termos uma vida mais igualitária e justa entre todos”, diagnosticou a presidente do Conselho.
Em seguida as quatro arquitetas e urbanistas mais votadas na seleção por votação aberta online, realizada pelo CAU/SE, com objetivo de divulgar a trajetória profissional nos meios de comunicação: site e redes sociais, contaram suas histórias de dificuldades e de superação.
A primeira delas, Ana Libório pontuou que existem sim muitas diferenças entre a mulher e homem. “Se eu fosse homem talvez tivesse mais sucesso financeiro, que sendo mulher. Somos verdadeiras, afirmativas, dizer o que pensamos e se posicionar, isso não é muito bem quisto na sociedade. Em reuniões por exemplo, não te deixam falar, não te ouvem, nossas ideias são desconsideradas e afastam do processo para não interferirmos. Como sou combativa e persistente, sinto que preciso até ser rude, gritar para ser ouvida”, revelou.
“Percebi que o que sabemos não é o suficiente. É necessária uma transformação diária e contínua. Cada dia abrimos outras portas com a intenção de evoluirmos”, afirmou a arquiteta e urbanista Andrea Reis, que tanto trabalhou em obras, percebeu o quanto essa experiência a ajuda em seus projetos até hoje.
A arquiteta e urbanista Clarisse de Almeida argumentou que conhecimento é a chave de tudo, ninguém tira, não tem sexo, nem tem gênero. “Aprendi a andar no meio masculino desde jovem. Não tive dificuldade. Eu ignorava qualquer comentário que denegrisse meu trabalho ou o mundo feminino. Chegue lá sabendo o que está fazendo. Tem que ter firmeza. Não tenha medo. Quando você faz o que ama, querendo resolver as coisas, que abraça a causa, você pode ser do gênero que for. Importante é que você está ali para contribuir e deixar um pedaço seu no local”, ressaltou.
Por fim, a arquiteta e urbanista Rivanilde Feitoza contou que não se formou para a atuar com a arquitetura do deslumbre. “Eu trabalho com bairros periféricos. Arquitetura social tem um poder tão grande, que as pessoas não imaginam. Infelizmente as universidades direcionam o ensino para projetos de luxo. Se entrarem numa comunidade vão ver que a necessidade de se aplicar a arquitetura. É essa arquitetura que eu me apaixonei. Uma área que precisa de profissionais. Atuar na arquitetura não é fácil e para quem é negro, pior ainda. Cada dia é uma nova batalha que eu supero. Se cada um fizer o seu melhor, superamos problemas e a arquitetura tem esse poder, de ser muito mais ampla e necessária do que aparenta ser”, defendeu.
Em seguida foi realizado um debate sobre as dificuldades vivenciadas pelas mulheres ainda na universidade e no mercado de trabalho da arquitetura e urbanismo em Sergipe, nos dias atuais e uma dinâmica em grupo com análise de temas como questões salariais, creditação aos projetos, a invisibilidade da mulher, preconceitos, e outros.