“Se uma cidade funciona para as mulheres, funciona para todo mundo”, diz arquiteta em audiência pública
14/02/2020 |
Fotos: Tíffany Tavares
Uma rica discussão sobre as desigualdades que a mulher enfrenta e o direito à cidade foi o assunto tratado em audiência pública realizada pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo, na tarde de quinta-feira, 06, no Plenário da Assembleia Legislativa de Sergipe (ALESE), em Aracaju. O evento faz parte do Ciclo de Debates Nacional promovido pelo Grupo de Trabalho Mulheres Arquitetas, de vários Conselhos de Arquitetura e Urbanismo de Unidades Federativas do Brasil.
Representantes de movimentos sociais, professores, advogados, arquitetos urbanistas, jornalistas, acadêmicos e sociedade civil participaram da audiência, com o tema: “A Mulher e o Direito à Cidade”, que contou também com o apoio do deputado estadual de Sergipe Iran Barbosa.
De acordo com a presidente do CAU/SE, Ana Maria Farias, os arquitetos urbanistas precisam também pensar nas cidades e planejá-las de acordo com as questões de equidade de gênero e raça, e principalmente a relação da mulher e o direito à cidade.
“É também nossa função planejar sob o ponto de vista dos problemas sociais, como número crescente de feminicídios, diferenças salariais entre homem e mulher, o uso dos espaços, o direito de ir e vir, violência urbana e doméstica, rotas seguras, transporte coletivo seguro. Isso é uma realidade brasileira e os CAU/UF estão unidos realizando o ciclo de debates no Grupo de Trabalho Mulheres Arquitetas, para propor estudos a respeito”, resume.
O deputado estadual Iran Barbosa, membro da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da ALESE parabenizou a iniciativa do CAU/SE e outros CAU/UF por tratar de um tema fundamental para esclarecer sobre as reais necessidades da mulher no meio em que vive.
“É desafiador garantir o empoderamento da mulher na sociedade, que perpassa principalmente pelo direito de ocupar os espaços nas cidades. Mas estamos aqui para isso. Lembramos que esse é um ano eleitoral, o tema cidade está pautado a todo instante e nada mais justo e necessário. Ficamos felizes em acolher esse debate e por contribuir na realização dessa audiência pública”, diz o deputado.
A professora universitária e militante de movimentos sociais, Sônia Meire abriu palestra relembrando a histórica tradição da sociedade patriarcal nos espaços públicos e privados. “É preciso romper essa lógica e planejar políticas públicas eficazes no planejamento que envolve a mulher e o direito à cidade, a exemplo de questões ligadas ao trabalho, moradia, meio ambiente, transporte público, educação e creches, além do simples direito de ir e vir nos espaços”, destaca.
Para a advogada criminalista que atua em defesa de mulheres em situação de violência doméstica, da Secretaria de Estado da Inclusão, Valdilene Oliveira Martins, quando se busca o direito da mulher, não se pensa em privilégios apenas para elas.
“Essa questão da mulher é tão óbvia e parece absurdo exigir direitos em pleno século XXI. As obrigações da mulher no âmbito privado são quase que exclusivos, sem parcerias, mesmo quando ela tem também responsabilidades no âmbito público. Investir em políticas públicas é priorizar o bem-estar da família, consequentemente o bem-estar social. É proporcionar qualidade de vida para todos, não apenas para as mulheres”, ressalta.
Em sua palestra, a arquiteta urbanista Tainá de Paula Kapaz afirmou que tratar sobre essa temática dos direitos da mulher é um desafio enorme, já que segundo ela, cerca de 78% das cidades brasileiras impossibilitam ou dificultam o direito de ir e vir de mulheres mães trabalhadoras.
“As mulheres enfrentam desigualdades sociais e preconceitos no planejamento e construção das cidades, principalmente no Brasil, com tanta cultura repleta de retrocesso. As mães e as crianças precisam ser vistas na sociedade. Se uma cidade funciona para as mulheres, funciona para todo mundo. A base da pirâmide social é feminina e negra. E se conseguirmos atender às necessidades da base da pirâmide, obviamente esta será inteiramente atingida. Então é preciso mirar nas mulheres para construirmos cidades mais democráticas e seguras”, assevera.
Estiveram presentes na audiência pública, a conselheira estadual Rosana Rivas e o vice-presidente do CAU/SE, Marcelo Maciel. A mesa foi mediada pelo deputado estadual sergipano Iran Barbosa e composta pela presidente do CAU/SE, Ana Maria Farias; a presidente do CAU/BA, Gilcinéa Barbosa; a presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, seccional Sergipe, Renata Dantas; a professora doutora Sônia Meire e pela arquiteta urbanista do Rio de Janeiro, Tainá de Paula Kapaz.